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[Artigo de Opinião] Entrevista de emprego:

[Artigo de Opinião] Entrevista de emprego:

26 de março de 2019 0 Por Bicha da Justiça

Preciso contar meu gênero ou sexualidade?

“Preciso contar que sou trans, travesti ou mesmo homossexual em uma entrevista de emprego?”. Perguntas como esta são mais recorrentes do que se pensa, pois, algumas empresas ainda submetem candidatos a esse posicionamento. Mas, será mesmo que é necessário? Como proceder nessas situações?

Emanuel Ferreira, 27 anos, redator publicitário conta sobre seu processo, desde o início da transição nas fases das suas entrevistas de emprego.

Quando eu comecei a procurar estágio, bem no início da transição, eu estava bem naquela fase andrógina, em que as pessoas olham e falam: o que é isso, um menino ou uma menina? E quando eu ia fazer as entrevistas eu fiz alguns testes. Em algumas eu chegava e falava que era trans, já logo de início, e geralmente as respostas eram bem negativas, o pessoal já não dava tanta moral durante a entrevista. Depois eu inverti e decidi não falar, só vou falar se chegar na última fase da entrevista e aí era inevitável, por que meus documentos ainda não eram retificados e eles iriam precisar de que eu assinasse o contrato com todos os meus dados, não teria como não falar.

Eu tive um caso bem específico. Fui fazer a entrevista em um lugar para Marketing de Conteúdo, passei em todas as etapas, cheguei na última, ficou entre eu e um outro rapaz, e aí eu trouxe a questão trans e expliquei que meus documentos não eram retificados ainda, mas que gostaria que todo o meu tratamento continuasse sendo como esse, já que como eles podiam ver eu me reconheço como rapaz. Então, vários empecilhos apareceram: ah… mas como a gente vai fazer com o chachá? Mas a empresa tem a cabeça muito fechada… as pessoas não vão aceitar..

Nas minhas experiências com relação a trabalho eu senti pressão. É meio que uma coisa obrigatória falar, caso você não tenha documento retificado.

Emanuel, hoje, tem seus documentos retificados e faz a hormonização.

Eu ainda não tive nenhuma experiência pós-retificação de documentos, mas eu me sinto, mesmo sem experiência, muito mais leve de não falar que sou trans, já apresento meus documentos e é isso, a pessoa não pode me questionar, por que é meu documento.

Perguntamos nas redes sociais (Instagram @bichadajustica | https://www.instagram.com/p/Bu4t2-OHMX5/) se vocês revelavam que eram LGBTI+ nas entrevistas de emprego, e várias respostas sobre experiências foram recebidas.

“Eu não falo e ainda estou passando por dificuldades, meus últimos 2 empregos fui demitido por homofobia agora é como se todas as portas se fechassem pra mim, além de não conseguir mais emprego eu não me sinto à vontade em nenhum lugar mais.”

“Eu falo que sou trans”

“Porque não, quando perguntam lógico mas!se não me perguntar não fico expondo minha vida;o mais importante é estar bem comigo.’.

“sim, quantas oportunidades perdidas por isso. Triste e revoltante”.

Afinal, precisa contar?

Com relação à sexualidade, ela é uma questão de foro íntimo e em nenhum momento se vê a obrigatoriedade de sua declaração, nem durante a entrevista, nem posteriormente, na efetivação da vaga.

Quanto a questão do gênero, se os documentos de nome e gênero já estão retificados, não se tem a obrigação legal de informar que é uma pessoa transgênero, pois a apresentação social dela corresponde com o que está escrito nos documentos, além do fato de que ser transgênero ou cisgênero não influencia nas atividades a serem desempenhadas, na maioria das vezes. Agora, se os documentos de nome e gênero não são retificados, a pessoa, no ato da entrevista não precisa declarar seu gênero, caso sinta-se desconfortável. Porém, em caso de contratação, na fase de entrega da documentação, é oportuno que explique ser uma pessoa transgênero e que está em fase de retificação de documentos, pois na maior parte das vezes nem mesmo o RH da empresa sabe o que é uma pessoa transgênero e, às vezes, uma simples explicação é suficiente para esclarecer.

De qualquer forma, o que precisa ficar claro é que o empregador não pode desclassificar pessoas transgêneras do processo seletivo de emprego exclusivamente em razão da identidade de gênero, pois, do contrário, haveria grave violação à lei, que poderá dar causa a obrigação de indenizar a pessoa trans em razão dos danos morais sofridos.

Dicas da Bicha da Justiça

1.Registre ao máximo toda evolução do processo seletivo, como e-mails, sms, whats, entre outros.

2.Se receber uma ligação falando que passou no  processo seletivo, peça que o Recursos Humanos- RH da empresa envie  para você por e-mail ou por mensagem, constando que você passou e detalhes da documentação.

3.Eventualmente, se a empresa desistir da sua contratação por questão de gênero, na fase de apresentação de documentos, por exemplo, se encaixa como transfobia e você pode processar e a partir disso, deve ser indenizado pelo proprietário da empresa por danos morais e até mesmo materiais, se for o caso, pela transfobia gerada.

Já passou ou está passando por alguma situação constrangedora no mercado? Não deixe de seguir as orientações e nos procurar. Casos de transfobia e Homofobia no trabalho precisam ser denunciados e nós podemos te ajudar.

Compartilhe esse texto com o máximo de pessoas do seu círculo social.

 

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